29 de abril de 2010

VIII - Madalena

- Então Mãe, como é que ele está?

- Mãe?
- O que é que ele está aqui a fazer?
- Quem?
- O Gabriel! Isto é tudo culpa dele!
- Oh Mãe, o que é que estás a dizer? O Gabriel não tem culpa!
- Tem! Tem e muita! Isto é obra daquela bruxa maldita e se ele a tivesse deixado em paz…
- Desculpe, Dª Conceição, eu acho que está a exagerar…mas agora não é hora de falar disto, o Carlos devia ir falar com o avô…
- Falar?! Falar, Gabriel!?! Ele acabou de morrer!


- Porra, não cheguei a tempo.

- Mãe, talvez não seja a hora mais indicada, mas sabes o que é que o avô me queria dizer?
- Não. Ele não disse a ninguém. Só queria falar contigo.
- Posso ir vê-lo?
- Podes, está no quarto.
-O Gabriel vem comigo!
- NÃO! Ele não tem…
- Mãe! Por amor de Deus. Ele não tem culpa nenhuma! Ele vai comigo! Anda Gabriel.


- Bolas! Gabriel, alguma vez viste uma coisa assim?
- Não. Ele está azul! Não morreu assim há tanto tempo!
- Pois não. Que imagem estranha…
- Mas há outra coisa, já reparaste?
- O quê?
- Olha bem para ele. Tenta lembrar-te do teu avô ontem e olha para ele hoje. Que diferença vês?
- Queres dizer… hmmm… para além de estar todo azul?
- Esquece a cor dele… não notas mais nada de diferente?
- Ehhh, pá, pois é!!
- Como é que isto é possível?
- Não sei, mas achas que tem alguma coisa a ver com ela?
- Só pode ser, Carlos, acho que a tua mãe tem razão, a culpa é toda minha…
- Cala-te! Esquece isso! A culpa não é tua. Pode até nem ter sido ela, sei lá…
- Achas mesmo? Deixa-me ver…bom…o teu avô está todo azulinho, o que até se podia explicar pelo facto de estar morto, o que mesmo assim seria um pouco rebuscado, não? Agora, como é que explicas o facto de ele estar, para aí, sei lá, uns 20 anos mais novo?!!
- Eia, que exagero…
-É? Olha bem para ele, toca-lhe!
- Ok…pronto…admito…ele está muito mais novo.
- Está, mais novo e morto…
- Pois.
- E não deve ter sido uma morte fácil, já viste bem a cara dele…
- E as mãos? Estão cerradas, como se estivesse a fazer força, olha ali!
- Pois é…


- Carlos?
- Sim…
- Já viste a mão esquerda dele?
- O que tem?
- Parece que está a segurar qualquer coisa. Vê lá o que é.
- Eu? Não lhe vou mexer!!
- Porra, maricas! Eu vejo então…


- Olha, é um papelinho…tem o teu nome Carlos!
- Dá cá!
...
- O que é que diz? Carlos? O que é que diz…
- É estranho…só tem uma frase…
- O que diz?
- Está um bocado tremido mas acho que diz:

“Valeu a pena”

1 comentário:

Rita Mendes disse...

Sou adepta da frase "tudo vale a pena quando a alma não é pequena!" e acho que este senhor queixava-se mas no fundo sabia bem os encantos da Madalena...