21 de abril de 2010

III - Madalena

- Gabriel?
- Sim.
- Reparaste que ela não passa há dois dias?
- Reparei.
...
- E não achas estranho?
- Oh Carlos, claro que acho. Significa que nos viu de certeza...
- Também, o que é que isso interessa? Querias ir ver onde ela ia e fomos ver. Agora acabou.
...
- Certo Gabriel?
- Hmm?
- Ouviste o que eu te disse?
- Não, desculpa.
- Estava a dizer-te que já viste onde ela ia todos os dias...já podes tirar daí o sentido.
- Achas? Viste para onde ela foi? Eu não!
- Porra, Gabriel. Ontem fomos lá os dois e viste o mesmo que eu...
- Vi. Vi "merda nenhuma"!
- Então, que culpa tenho eu se não havia lá nada!
- Não percebes? Como é que explicas que ela se tenha evaporado em segundos? Como é que explicas que ela passe todos os dias e que nunca a vejas voltar? Como é que explicas que ela vá todos os dias olhar para um monte de ervas?
- Sei lá!
- Não sabes? Então eu digo-te o que aconteceu.
- Então?
- Ela percebeu muito cedo que a estávamos a seguir. Fez aquilo que faz sempre. Ficou à espera do momento certo e quando entendeu que queria fazer o que faz sempre...olhou para trás.
- Não estou a perceber...
- Oh, Carlos, ela sabia perfeitamente que logo que se virasse nós íamo-nos baixar instintivamente. Seria um reflexo inevitável de duas pessoas que sentiam que estavam a fazer algo de errado: a invadir a privacidade de terceiros. Esse seria então o momento ideal para ela fazer o que fez sem percebermos como o fez.
- Mas podia apenas ter voltado para trás, e nós ficávamos a saber o mesmo.
- Pois, é isso que me está a intrigar, eu acho que ela quis que ficássemos assim, perplexos.
- Eu nem estou a acreditar...
- Mas por outro lado, estou chateado comigo próprio. Eu não queria interferir com este ritual dela e agora estraguei tudo. Eu não tinha o direito...
- Eh lá, não achas que estás a ser um bocado...
- Não! Não acho. Aliás, ficas a saber que pretendo pedir-lhe desculpa.
- O quê? Olha, é melhor sairmos daqui...acho que já apanhaste sol a mais na cabeça...
- Tenho que falar com ela...
- Ouve, não contes comigo para mais nada...não sei o que estás a pensar fazer mas estou fora.
- Tudo bem. Aquilo que eu vou fazer, prefiro fazer sozinho...
- O que é que vais fazer pá? Lembra-te do que disse o meu avô, ela não deve ser bem flor que...
- Vou a casa dela.
- ???
-Não olhes para mim com essa cara. Esta noite vou a casa dela. Está decidido.

3 comentários:

Miss I disse...

Bom, bom! O Gabriel vai queimar-se, não vai? ;)

Rita Mendes disse...

ora bem, tinhas de tramar a minha linha de pensamento... agora todos os revirares de história são possiveis... ainda bem, aguardo o próximo capítulo!

Goth Mortens disse...

Miss , vamos ver...não sei se queimar-se será a expressão...

Boo, eu não te quero tramar. ;)
Que linha de pensamento era essa?