23 de fevereiro de 2010

As tuas suposições...

Provavelmente julgaste que eu esqueceria aquele momento, que não veria nele qualquer significado. Achaste que eu estava contigo por capricho, que serias mais uma conquista. Espreitaste-me depois do beijo com aquele olhar derrotado de quem se entregou e não queria. Estava evidente nos teus olhos esse sentimento. Eu só podia ser mais um daqueles homens com quem te cruzaste toda a tua vida, não podia ser diferente desta vez. Era impossível, para ti, que eu pudesse, na verdade interessar-me por mais do que me deste naquela noite. Apercebi-me de todas as fases da tua entrega: primeiro a resistência, depois a rendição, e, por último e infelizmente, a mudança de atitude. Assumiste que eu era mais um e atiraste-te de cabeça, mas apenas com o teu corpo e nada mais. Nessa noite não tive mais nada. Infelizmente para ambos, só hoje percebi o que aconteceu. Na altura pareceste-me apenas fútil, mais uma que só me procurou para saciar um desejo pontual, e por isso não te liguei.
Em verdade te digo que procurava bem mais do que o que tive. O sexo não foi nada de extraordinário, mas a culpa não foi tua. O problema é que o sexo pelo sexo é bom, mas não é o melhor. Devias ter-me dado tempo para te conhecer, apaixonar-me pelo teu espírito indomável, pelo teu intelecto, ao ponto de ele me excitar e de eu explodir de prazer, não por estar a ter uma boa noite de sexo, mas por estar a tê-la contigo.
Quis saber quem és, do que tens medo, com o que rejubilas, se andas de pantufas em casa, ou descalça, se gostas de adormecer no sofá, se saltas da cadeira nos filmes de terror, como tratas os teus amigos e família, se gostas de pipocas com açúcar, ou com sal, ou se as detestas como eu, se gostas de acordar mais cedo ou mais tarde, se gostas de massagens, se choras com alguns livros que lês, ou se não lês livro nenhum. Tornaste tudo isto impossível.
Este sou eu.
Para nós, é tarde, perdeu-se o momento. Além disso, não gosto que me julguem precipitadamente. Agiste como se já tivesses conhecido muitos como eu e isso irrita-me, porque eu sou único.

19 de fevereiro de 2010

Compromissos

Considero-me um cavalheiro.
Para quem está a pensar no que poderei querer dizer com isto, esclareço: ser cavalheiro é mais do que abrir a porta do carro para uma senhora entrar, ou segurar a porta do restaurante enquanto alguém entra, ou dar prioridade a uma senhora para se sentar no autocarro. Para mim, ser-se um cavalheiro é mais do que ser porteiro ou ficar de pé quando nos queremos sentar. Especialmente, porque para se ser um cavalheiro, o nosso comportamento deve alargar-se a todos os géneros e não apenas às senhoras. Isto leva-me até ao conceito que me parece ser o que melhor distingue um verdadeiro cavalheiro dos demais aspirantes: compromisso. O conceito de compromisso é para mim o mais importante em qualquer relacionamento seja ele pessoal, profissional ou amoroso.
O nosso país tem um problema em assumir um compromisso com a pontualidade. Há muito quem faça alarde de não fazer esperar um cliente, mas em contrapartida deixa um amigo à espera trinta minutos, ou atrasa-se para um jantar com a esposa. Não se faz esperar um cliente, nem um amigo e muito menos uma mulher.
Mais, gostava que me explicassem as marcações para as "dez, dez e meia", que acabam sempre por resultar numa chegada às dez e quarenta e cinco, e o atrasado ainda atira "só me atrasei quinze minutos". Na verdade, quem chegou às dez esteve 45m à espera, mas isto digo eu que sou maluco. Em todas as minhas relações, se sou vítima de um atraso vou-me embora, não espero. Fui desrespeitado. A maior parte das pessoas que se atrasa comigo, nunca perdeu um avião, ou um autocarro, ou um comboio, o que significa que não me respeitam o suficiente para me presentear com a pontualidade.
A maior parte de nós foge da palavra compromisso. Num grupo de amigos, sempre que se faz uma marcação para um programa qualquer há sempre quem diga "eu depois confirmo-te" que é o mesmo que dizer "não me quero comprometer já porque depois pode aparecer um programa melhor, mas por outro lado não quero já descartar este porque posso ficar sem programa".
Eu nunca tive problemas em responder, perante um convite, "não vou porque não me apetece". A honestidade é uma das melhores provas de cavalheirismo que podemos dar. Nunca ninguém me penalizou por dizer a verdade, nem perdi amigos. Eles assim sabem que quando estou com eles é porque quero verdadeiramente estar lá. Não faço nada contrariado ou por não ter nada melhor para fazer.
Por último, falo do compromisso da lealdade. Para mim, talvez o mais importante. Não se trai um amigo, não se trai um cliente e acima de tudo, não se trai uma mulher. Não sou santo, nem almejo tal sorte. Naturalmente que posso achar outra mulher interessante. Mas tenho um compromisso com a minha mulher e enquanto o tiver só há espaço para ela. A não ser que se abra espaço para uma terceira pessoa ou mais duas, quem sabe, na relação e que seja de comum acordo. Estou sempre aberto a novidades.
Cada vez menos se respeitam compromissos, e julgo que isso terá a ver um pouco também com a crescente facilidade de comunicação. Antigamente agendava-se algo, e se uma das partes faltasse isso resultava sempre numa longa espera. Não havia como avisar, e quem esperava tinha sempre receio de ir embora e a outra parte aparecer imediatamente a seguir. Hoje, é fácil avisar. Liga-se a dizer "estou quase a chegar", ou " estou atrasado" ou "surgiu um imprevisto, já não posso aparecer." Mas não devemos deixar que isso iniba o nosso bom senso e a arte de não falhar.
Devemos assumir e respeitar compromissos. Não é muito complicado.
Não confio em alguém que esteja constantemente a "furar" compromissos, quaisquer que sejam.

17 de fevereiro de 2010

Bem Vindo Alfredo

Apenas uma nota de agradecimento a Alfredo Ribeiro, que se tornou seguidor do Uatafak.
Aproveito para vos aconselhar um dos seus blogs: http://leiriacidadedolis.blogspot.com/
Quem, como eu, adorar a cidade de Leiria vai certamente gostar do que o Alfredo tem colocado na blogosfera.
Até breve.

16 de fevereiro de 2010

Mais um dia...

Olho pela janela. A chuva cai lá fora, indiferente a feriados, carnavais, festas. Por mim pode cair, não gosto de Carnaval, pelo menos como o conhecemos.
O Carnaval que nasceu como uma celebração do adeus à carne, ligado à religião, não é bem o meu Carnaval. Quando a Igreja Católica implementou a Semana Santa, que deveria ser antecedida pela Quaresma (quarenta dias de jejum) a população começou a sentir uma crescente necessidade de festejar antes de dizer "adeus à carne" na Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. Isto aconteceu no Séc. XI e portanto, na sua origem, o Carnaval nasce como uma festa que até pode ser considerada pagã. Uma espécie de "Ai é??! Não podemos comer carne??!! Então espera lá que esta semana vou-me vingar!". Esta característica do Carnaval já é mais do meu agrado, confesso.
Quando penso em Carnaval penso em vários convidados mascarados, misturados numa orgia de carne e de sentidos, ao som de "Mão Morta". Um ritual de carne, mas não da que se come. Isso sim, era Carnaval e aí sim, até eu me mascarava. No entanto, para já, não é possível.
Assim, aproveitei o dia de hoje para outras coisas e à tarde, zombei da chuva que caía e fui correr. Foram 4.5km maravilhosos, em que me cruzei no máximo com duas pessoas. Já fui perto do final da tarde, estava já a anoitecer quando comecei. A cada metro que corro sinto-me mais limpo por dentro. Apenas eu e a cidade, com a banda sonora que eu escolho. Hoje, escolhi James Horner (banda sonora de Avatar) e foram momentos extraordinários. Adoro correr, e à chuva dá-me um prazer especial. Acabei sentado num muro, olhando o Castelo de Leiria, iluminado, imponente, e fiz a limpeza habitual. Esvaziei a mente, senti a chuva a cair-me no rosto, pensei em tudo e em nada. Renovei-me.
É a minha terapia e tenho necessidade de a fazer várias vezes por semana. Acho que todos devemos ter um terapia nossa, aquele momento em que conseguimos um olhar para dentro de nós e renovamos a energia para voltar ao mundo real.
Estou pronto para amanhã.

7 de fevereiro de 2010

Quem és tu?

Passo por ti. Acontece muitas vezes. Não dás por mim, não me conheces, a minha existência choca com a indiferença nos teus olhos...de cada vez que passo. Não sei quem és. Intrigas-me. Fico a pensar no som da tua voz, que nunca ouvi. Nunca te vi andar, tão pouco, porque vejo-te sempre parada. Sei que esperas alguém e não sei quem é. Sei que não sou eu. Não me esperas, a mim não. Sei que és bela, isso eu sei. Os teus cabelos negros e escorridos beijam os teus ombros, criando para a tua a face a mais bela moldura. A arte que é o teu rosto merece cada segundo do meu olhar. Os teus olhos negros, fundos como poços, parecem puxar-me para me aprisionar. És simbiose e harmonia da cabeça aos pés.
Inicialmente, era enorme a minha curiosidade em conhecer-te. Hoje, desisti dessa ideia. Tenho receio. E se falares e a tua voz me causar diferença, e se falares mal, se pronunciares mal as palavras? E se fores fútil, e se a tua falta de intelecto for demasiado evidente, se me desapontar?

Prefiro assim.

Continua à espera.

Eu vou continuar a passar.

2 de fevereiro de 2010

Avatar

Não podia deixar de lhe fazer referência. Fui ver o Avatar há algumas semanas. Confesso que durante o tempo que ouvi falar do filme, não só através das publicações da especialidade que habitualmente acompanho e consulto, mas também através das pessoas que o foram ver antes de mim, fiquei com a ideia de que talvez houvesse algum exagero nos elogios que eram feitos a mais esta obra de James Cameron. O realizador está longe de se encontrar entre as minhas preferências. Na verdade não pensei que o "obreiro" de Titanic fosse capaz de algo que fosse do meu interesse. Desconfiei de "Avatar". Nunca duvidei que a explosão de cores fosse real e que fosse efectivamente como contavam. Confesso aqui que a minha primeira ideia antes de ver o filme foi: "mais uns milhões gastos num capricho de Cameron sem o mínimo conteúdo ou argumento, apenas para deleitar a vista esquecendo o intelecto" - ainda não esqueci o fraco, fraquíssimo, "Titanic".
Vi o filme. Mudei de ideias.
Sou da opinião de que só os burros nunca mudam de ideias.
Devo manifestar que "Avatar" se apresentou, para mim, como uma agradável surpresa. Não que o argumento seja original (toda a gente se lembra de "Pocahontas"): um povo invasor, um povo nativo, uma guerra invasora e um amor que nos faz questionar os motivos de uns e abraçar os motivos de outros.
Mas a inteligência de "Avatar" não está no argumento, ainda que eu ache que, não sendo original, ele foi bem explorado. A inteligência deste filme vai, também, muito além da extraordinária tecnologia. Contudo, apesar de não ser o melhor filme que vi, foi sem dúvida o mais belo. É impossível não nos apaixonarmos pelo planeta Pandora. Mas, dizia eu, a inteligência de "Avatar" está nos pormenores: a cultura simples e pagã dos Na'vi, entretanto já criticada pela habitual estupidez natural da Igreja Católica; a ligação de um povo à natureza (fauna e flora) de uma forma fantástica e das mais belas alguma vez retratadas; a retribuição, por parte da Natureza, da adoração dos Nav'i. Tudo isto são aspectos que, sobretudo Hoje, são revestidos de uma assinalável pertinência. Se tiverem a disponibilidade e a paciência que a tarefa exige, atentem na construção e complexidade linguística dos Nav'i, nas conversas desenvolvidas na língua nativa. Brilhante e bela.
A estrutura moral das personagens está bem conseguida e bem assente nas suas prioridades, isto é, são personagens com falhas e com estruturas comportamentais possíveis, por serem imperfeitas. Jake Sully, por exemplo, decide abandonar o seu mundo e o seu corpo para se tornar a consciência definitiva de um avatar, mas não o faz apenas por amor, fá-lo também porque tem naquele mundo algo que não tem no seu: a capacidade de andar.
De todas as personagens, porém, a minha preferência recai sobre a mais pura e perfeita: Neytiri. A graciosidade, a destreza, a força que disfarça as fragilidades, a beleza e a voz sensual de Zoe Saldana fazem com que esta personagem tenha entrado directamente para o primeiro lugar das personagens mais sensuais e cativantes de todos os tempos no cinema, na minha opinião claro.
Bom filme.