19 de abril de 2010

II - Madalena

- Não acredito que me convenceste a embarcar numa coisa destas. Se contas a alguém que fizemos isto eu nego tudo...
- Ó Carlos, se é para estares com essas merdas é melhor não vires...
- Tudo bem, eu vou, mas que é uma estupidez, não tenhas dúvidas que é. Pode ser que sempre dê para umas gargalhadas!
- Goza à vontade. Mas goza tudo agora, porque depois dela passar não quero nem mais um pio, se não vou sozinho.
- Oh, Gabriel, agora a sério, queres mesmo fazer isto?
- Não tínhamos já decidido?!
- Eh pá, tínhamos, mas depois do que o meu avô me disse...
- Vais desistir?
- Não. Claro que não.
- O teu avô só confirmou o que a minha avó já tinha dito: que não nos devemos aproximar dela.
- Sim, mas o que vamos fazer hoje não vai bem ao encontro do que nos disseram...
- Porra! O grande Carlos está com medo?!
- Cala-te. Não tenho medo. Já estou é a ficar farto de estar à espera!
- Isso já te passa. Olha quem vem lá...
- Ouve, Gabriel, eu nunca tinha reparado, mas ela é mesmo esquisita. Olha para aquele cabelo todo desgrenhado...nem dá para ver de que côr é...já viste?
- É ruivo, côr de fogo. Agora cala-te!
...
...
...
- Vamos lá então?
- Espera Carlos. Queres que ela nos veja?
...
...
- Vamos agora, anda!
- Eu vou-me arrepender tanto disto...
- Ainda estás a tempo de ficar ali sentado!
- Já não está cá quem falou.
...
...
- Eh pá, ela anda bem depressa!
- Achas que ela vai para o cemitério? Vai nessa direcção...
- Espero bem que não. Não consigo tirar da cabeça a cara do meu avô. Parecia que a mulher era o "demo" em carne e osso!
- Credo! É só uma mulher...
- Olha! O corte para o cemitério é já ali...
...
...
- Mas ela não vai para lá, seguiu em frente. Confesso que estava com esperança que ela fosse todos os dias visitar um familiar falecido...
- Pois, Gabriel, mas a não ser que o familiar viva ali no meio do pinhal, não me parece que seja isso que ela venha cá fazer...
- O que é que raio ela vai fazer para o meio daquele pinhal, não há ali nada...
-...nada de bom, seguramente. Pelo menos que tu saibas...e eu...
- Abranda um bocado, ali no pinhal não vai ser tão fácil passarmos despercebidos...
- Vamos por aqui mais chegados para as moitas, sempre ficamos um pouco escondidos...
- Olha, ela cortou ali à direita, vai já a direito por aí se não ainda a perdemos...
- Ok. Tem calma.
- Fala baixo, pá!
...
...
...
Olha...ela parou ali...vamos aproximar-nos...
...
...
...
- Esconde-te aí atrás...
...
- Ela está ali especada há pelo menos um minuto...o que é que será que está a ver...
- Não sei. Vejo tanto como tu, ela está de costas...
...
...
- Merda! Baixa-te!
...
...
...
- Achas que ela nos viu?
- Não sei, mas virou-se mesmo para nós! Será que sabia que aqui estávamos?
- Claro que não. Ela nunca nos viu, como é que podia saber...olha vou espreitar...ver se ainda está a olhar para aqui...
...
...
...
- Olha! Para onde é que ela foi?!! Levanta-te Carlos, ela desapareceu. Porra, pá! Baixámo-nos quê, dez segundos?!
- Mas para onde teria ido? Nem há ali sítio para se esconder!!
- Não sei. Pode muito bem estar a ver-nos neste preciso momento...
- Achas?!
- Na verdade, não. Acho que queria ir para algum lado e foi. Nós é que ficámos sem saber que sítio é esse...
- Vamos embora, Gabriel, já não estamos aqui a fazer nada e entretanto é de noite...
- Vamos já...
- Não me vais dizer que queres ficar à espera que ela volte...
- Não, porque ela nunca volta...pelo menos pelo mesmo caminho...

2 comentários:

W. disse...

Aqui acho que não são flatulências. Mas já sei o que é, de certezinha absoluta. Só que não digo. Para... errr... ora bem... coiso... Ah, para não estragar o suspense aos outros leitores!

Rita Mendes disse...

mais uma noite a remoer de curiosidade..