1 de maio de 2009

Se eu morrer...

Eu tive uma mãe que sabia rezar. Se eu morrer e a minha alma se perder, a culpa será unicamente minha. Nina Simone cantou umas frases muito semelhantes a estas num dos meus temas preferidos. Não sei se a minha mãe sabe rezar. Se souber, à luz do facto de me ter como filho, tenho a certeza de que já o fez várias vezes e, provavelmente, a mais do que um Deus. Julgo que ela viu sempre Deus como algo que não se sabe muito bem se existe ou não, mas devemos agir como se existisse, não vá o Diabo tecê-las e o fulano estar de facto sentado a comandar as nossas existências. Talvez por isso se irritasse muito quando eu, herege e ateu até à ponta dos cabelos, desdenhava de tudo o que é religioso e dizia, alto e para quem quisesse ouvir, que Deus existe tanto como o Pai Natal. Talvez vivam juntos e até participem em marchas pelos direitos dos homossexuais. Aquela túnica nunca me enganou. Naturalmente brinco, apenas isso.
Contudo, é um facto que não acredito na existência de um Deus, qualquer que seja. Não existe ninguém que mande mais na minha vida do que eu próprio, logo sou eu o meu Deus. Honestamente, parece-me que a criação de religiões não passa de uma fachada para dar sentido à vida daqueles que não são confiantes o suficiente para fazer depender de si próprios o sucesso ou dos que são demasiado fracos para atribuir a si próprios o fracasso. É mais fácil para todos dizer, após uma desgraça, que "aconteceu por vontade de Deus" e depois de algo bom "graças a Deus". É mais fácil pedir a Deus do que a nós próprios. Dá menos trabalho. Rezar é talvez uma das coisas mais absurdas e inconsequentes que existe. Onde está a lógica? A ideia que mais me assalta é a de estar um tipo, alemão, a rezar antes de partir para a guerra. A centenas de quilómetros de distância está um tipo, norte-americano, a fazer precisamente o mesmo. O tipo alemão está vivo, o outro não. Rezaram ao mesmo Deus. Entraríamos agora numa discussão sobre merecer ou não ser ouvido. Não passaria de tempo perdido. Morrem pessoas boas e más. Simplesmente morrem. Ninguém decide isso, a não ser um conjunto de circunstâncias e decisões que, conjugadas, nos conduzem até ao dia em que respiramos pela última vez. Se existir um Deus que decide tudo desafio-o a acabar com a minha vida agora mesmo ............................................... hmmm, ainda aqui estou. Quem manda na minha vida sou eu, quem faz o meu destino sou eu. Sou o único responsável pelos meus actos. Se eu estiver enganado em relação a tudo isto e morrer, a minha alma ficará para sempre perdida, é verdade, mas a culpa será unicamente minha.