22 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal

Nesta quadra tão singular, cumpre-me deixar aqui algumas palavras de teor mais especial. Durante os próximos dias não devo aqui escrever mais nada. Estou oficialmente retirado até 2010.

Desejo a todos o Natal que desejam.

Para mim desejo...bom...já lá vamos.

Não é uma quadra que me agrade particularmente. É curioso pensar que é nesta altura que muitos de nós "decidem" morrer. Como se esta fosse a altura certa para deixar a vida, ou porque talvez seja, o Natal, a derradeira prova de que estamos sós. Não deixa de ser intrigante a nossa imbecil predisposição para sermos diferentes, nesta quadra, de tudo aquilo que somos durante o resto do ano. Damos esmolas, gastamos dinheiro com pessoas que habitualmente desprezamos. Chamamos família às pessoas que vêm jantar uma vez por ano connosco. Comovemo-nos com histórias que noutras alturas não nos interessariam. Usamos cachecóis, sobretudos, luvas, pensamos na neve quando não a temos, assistimos a filmes lamechas e sentimo-nos bem, aconchegados, satisfeitos, ligados ao resto do planeta de uma forma estranha. Estranha porque não se entranha nos outros cerca de 360 dias. Entramos numa espiral de sentimentos provocados pela euforia geral em torno do Natal, provocados pelos meios de comunicação. Sonhamos. Sonhamos para acordar, ano após ano, nos mesmos sítios e sermos, de novo, as mesmas pessoas.
Não vou ser hipócrita ao ponto de entrar em clichés anti-sociais. Também eu me deixo levar, de certa forma, por alguns destes sentimentos ou emoções. Também é verdade que os consigo simular ou fingir na perfeição.
Para mim, o Natal não passa de uma espécie de divã de psicólogo, em que deixamos sair todos os segredos que acumulámos. Suspiramos, viramo-nos para o lado, uma e outra vez, tentamos negar que tenhamos sentido coisas assim, muito menos pensado. Saímos porta fora, eventualmente mais leves, e partimos para aquela que é a tentativa de mudar o que está mal e manter o que está bem, se possível melhorar: O Ano Novo.

E para mim... desejo chegar ao Natal e passar para o Ano Novo. Já era bem bom.

Até 2010.

e.t.: se não voltarem a ver posts meus, é porque não passei.

29 de novembro de 2009

!

nao sei quando vais ler estil, tb nao sei se vais querer responder. so tenho de aceitar. magoa-me mas é uma decisao tua. nao sei o que dizer nem porque estou a escrever. mas a verdade é que nao consigo passar sem te dizer alguma coisa. a vida nao é facil e Às vezes muito dificil de a encarar. a verdade é que ultimamente fiquei muito magoada com algumas pessoas à minha volta. acho que por mais mal que faça ou tenho feito na vida nao mereço certas situaçoes. se calhar mereço sofrer... nao sei.tenho de desabafar, e por mais estranho que te possa parecer és a unica pessoa com quem me sinto bem a fazer. se calhar pela cumplicidade que sempre senti. há dias em que acordo e nao tenho vontade de levantar a cabeça pois nao consigo que nada me corra bem. nao sou feliz cmg propria. nao te sintas culpado. nao quero isso.a verdade é que depois de tantos meses ainda sinto a tua falta ao meu lado na cama, de te abraçar, do teu cheiro.... aiiiiii....por mais que tente nao consigo estar com mais ninguem. tive oportunidades para isso, mas nao consigo, pois nao era justo estar com alguem e nao ter sentimento.um destes dias estava na rua e alguém passou e tinha o teu cheiro. nao imaginas o que custou. nao te posso obrigar a nada nem tenho o direito. nao posso mandar na tua vida. tenho ciumes, admito. nao sei se tenho esperanças ou nao. mas se queres deixar de dar noticias, nao te posso pressionar para o contrario.claro que gostava de saber o que fazes, onde andas, com quem estás. poder controlar-te. mas quem sou eu para isso? ninguem.entre poder estar com uma pessoa que não amo, prefiro ficar sozinha. porque na minha vida só existiu um amor, nao vale a pena dizer-te quem... pois tu sabes bem.tenho dias em que olho para tudo e penso na melhor forma de deixar de fazer peso e dar problemas. é isso que eu sou, um problema. nao ha um dia em que nao deseje um amo-te ou um beijo. como te disse ontem tomei algumas decisoes e uma delas foi deixar de acreditar e dar confiança a uma pessoa. acho que as atitudes dele têm uma razao, que varias pessoas me disseram mas eu prefiro nao acreditar e pensar nisso pois nao quero.acredita que nunca tive qq tipo de envolvimento.nao me peças para te tirar da minha cabeça pois nao sou capaz. queria um ultimo beijo, queria muito. mas nao o queres, respeito. a lingerie que me deste nunca mais fui capaz de vestir, nao sei pk mas nao consigo. era para ti.peço-te que tenhas juizo, acaba o teu curso, nao desistas do teu futuro.se te quiseres afastar de mim e encontrar-te cmg uma ultima vez, eu gostava.pediste-me para nao ir mais ao teu trabalho no teu horario e vou fazer isso. nao quero que tenhas qq problema por minha causa.nao te chateies com ninguem por minha causa.nao é decisao nem vontade minha de deixar de te falar e sair da tua vida. mas se o quiseres terei de fazer e respeitar.se nunca tivesse aparecido na tua vida nunca tinhas tido tantos problemas. desculpa. nunca tive essa intençao nem fiz de proposito.nunca te esqueças que fui sempre verdadeira ctg, em tudo. caguei para o que as pessoas possam pensar. mas perdoei-te tudo e para mim apenas conta o bom que passei ctg. fui muito feliz mesmo.desculpa se alguma vez te fiz infeliz ou pressionei.nao te esqueço. es importante para mim e sofro com os teus problemas. ha pessoas que nao valem a pena qq perdao mas nao tenho qq raiva de ti e como te disse perdoei tudo. fica descansado que nao tenho qq ressentimento.ai nao queria parar de escrever mas tem de ser. ja deves estar a apanhar uma valente seca posso pedir-te um foto tua? nao é para mal nenhum. apenas par poder olhar para ti de alguma forma.quando mudares de casa e nao me quiseres dizer onde é, acredita que nao te vou perseguir para saber.cuida de ti!! descansa!! come, que de certeza que nao tens comido nada de jeito. eu conheço-te.um beijo muito grande onde quiseres. um abraço muito apertado. vou deixar-te algo que um dia escrevi e guardo:a saudade aperta, sufoca, estrangula-me as veias que estao prestes a explodir. o ar falta-me e a respiraçao torna-se cada vez mais ofegante.nada faz sentido...ocupo a cabeça com tudo o que posso mas nada me distrai o pensamento. ha um tempo atras estava lá, e tudo era perfeito. uma amalgama de sentimentos bons, uma sensaçao de cumplicidade. loucuras passadas entre olhares , toques e mais do que algum dia poderia ser passado. mas a perfeiçao nao existe e é passageira.o sentimento de alegria e cumplicidade foi-se desvanecendo como as nuvens aos sabor do vento. tudo se tornou estranho, impossivel e triste.mais dificil é esquecer e muito mais complicado é encontrar uma nova felicidade. nao, nao ha igual, parecido talvez, mas nunca vai voltar a ser o mesmo e o tempo nao volta atras. voava mas cortaram-me as asas.o cheiro voltou a entranhar-se, a sensaçao nunca saiu e o sonho permaneceu.sinto que um punhal me atravessa o corpo e que a minha alma de escapa lentamente pois ja nada faz sentido. aqui só a solidao e o silencio reinam imperiosamente e ficou apenas a saudade. é dificil viver a realidade. mais dificil é esquecer um sonho.o impossivel tomou conta de mim.
amo-te

16 de novembro de 2009

O Homem Social

Considero que o título desta mensagem representa todas as pessoas que me aborrecem com estigmas sociais. Isto pode parecer um cliché e certamente pensarão: "lá vem mais uma treta de conversa acerca de remar contra a maré ou ser diferente, ou da irreverência e trá-lá-lá...". Não é bem isso. Também eu tenho máscaras, como saberão os dois ou três leitores (sinto-me optimista hoje) das linhas que habitualmente decoram este sítio. Também eu sou, à minha maneira, um habitante da sociedade. Contudo, tento sê-lo sem exageros. Os preconceitos irritam-me e levam-me a pensar até que ponto o cinismo pode ser uma forma de vida (estranha, lembrando Amália, já que está in fazê-lo). Todos temos algumas barreiras, essencialmente profissionais, que não nos permitem libertar o máximo do nosso sadio potencial durante o dia. Apesar disso, não vejo motivos para levarmos essas barreiras para um jantar de amigos, por exemplo. Aproveito para "desenferrujar" o meu latim e lembro a máxima in vino veritas na qual eu acreditaria piamente se em vez de vinho falássemos de sexo. Bom, na verdade, se pudesse ser sexo depois do vinho eu não me limitaria a acreditar, antes construiria toda uma seita à volta desta ideia, tamanha é a verdade que ela encerra.
Aproveito sempre jantares ou situações de convívio para testar os limites dos que me rodeiam. Naturalmente faço-o de forma subtil. Experimentei algumas vezes falar do assunto "sexo", até mesmo com pessoas que conheço menos bem e apesar de toda a informação existente hoje, consigo sempre ver algumas faces a ruborizar, especialmente de senhoras, mas também de senhores. As senhoras, habitualmente, fingem não gostar do tema, mas lá vão perguntando a medo "como é que sabes isso?"ou dizendo à minha mulher uns venenosos "Tens que ter cuidado com o teu marido, que ele é especialista!" Os senhores, começam por gostar do tema, mas à medida que vão deixando de conseguir acompanhar a minha conversa, por desconhecimento ou timidez, começam a ficar chatos e a querer mudar de conversa, com medo que as suas companhias achem que, atendendo ao meu conhecimento profundo da matéria, eu seja um "nobel" na cama, o que não tem que ser necessariamente verdade. O melhor treinador do mundo (na minha opinião) nunca, enquanto jogador, foi além da mediocridade. Também é verdade que a maior parte das mulheres com quem falo, por muito que até quisesse (que eu duvido) provar um pouco do mel, teria medo de o fazer por preconceito ou por achar que lhes ia propôr algo tão estranho que elas não se sentiriam bem consigo próprias a fazê-lo. A verdade é só uma: o Homem Social é um tédio. A maior parte das pessoas com quem falo não sabe o que significa nenhuma destas coisas ou conceitos: dildo, strap-on-dildo, bbw, milf, gang-bang, saphic erotica, bondage, fuck-machines, real doll, podolatria -podia continuar a noite toda - e nem sequer conhecem uma das minhas estrelas porno preferidas (pela graça que tem) - Bridget "the midget". Nomes como Rocco Siffredi, John Holmes, Silvia Saint ou Jelena Jensen, não lhes dizem nada. Não estranho. Mas tenho vindo a descobrir que à medida em que a conversa vai subindo de tom nestes jantares onde eu disparato, lá se vai descobrindo que afinal há um ou outro nome que não é assim tão estranho, mas que ninguém quer admitir que conhece ou sabe. É este preconceito é que não percebo.
Se todos fôssemos um pouco mais honestos connosco próprios talvez pudéssemos permitir-nos um pouco de diversão da boa e da barata. Eu sonho com o dia em que depois de um magnífico repasto, entre amigos, o convívio perdure pela noite dentro. Eu diria, no final do jantar, um descontraído "E se tirássemos todos a roupa, só para ver o que acontece?" et voilá a orgia acontecia, naturalmente. E o mundo seria certamente um lugar melhor (suspiro).

E.T.: E pronto, lá arranjei maneira de não ter ninguém a jantar em minha casa nos próximos tempos.

13 de novembro de 2009

Lema de vida

Lemas de vida, máximas e conselhos só servem para quem os tem ou dá.
Passei algumas vezes por momentos de inigualável tristeza. A minha vida ainda não foi longa, espero estar ainda no primeiro terço. A minha mãe repreende-me sempre que eu brinco com temas como a Morte ou Deus, dois temas que me são caros: o primeiro porque o enfrentarei, é ínequívoco, o segundo porque é um equívoco, o maior da humanidade. Um dia virá em que me encontrarei frente a frente com a morte, e sairei certamente derrotado. Com Deus, não tenho a mesma certeza, jamais estaremos frente a frente. Não se pode enfrentar algo que não existe.
Dizia eu que sofri algumas tristezas. Todas com algo em comum: pareciam sempre muito piores que a anterior. Decidi, porque ninguém decide de mim a não ser eu, pese embora ter levado anos a entender isso, que as tristezas iam acabar. Ora, não se consegue acabar com espécie nenhuma de coisa, sem se saber a sua origem. Tentei perceber o que motivava a tristeza que sentia, pensei nisso dias e noites a fio. Não sei quanto às tristezas dos outros, mas as minhas, havia apenas uma coisa que as motivava: a perda. A perda de alguém quue nos deixou, a perda de tempo, a perda de uma rotina boa, a perda de alguém que tivemos que deixar para trás, a perda de algo ou alguma coisa, mas sempre a perda. Nunca mais passei por tristeza nenhuma.
Eliminei a perda eliminando a posse. Escolho nada possuir, nem ninguém, e não deixar que ninguém me tenha realmente. Não perco nunca. Não me lembro da ultima vez que me senti triste. Também não significa que ande sempre eufórico de alegria. Mas sou feliz controladamente. Como com a maior parte dos meus sentimentos. Efectivamente, não me considero posse de ninguém, não no sentido rebelde e romântico do conceito, mas no sentido de não estar preso a estereótipos. Também entendo, com justiça, que ninguém me pertence. Os meus amigos não são meus, não me devem nada, não há exigências. Sabem que não têm que passar tempo comigo, nem têm que me ligar no aniversário ou no Natal para serem meus amigos. A minha mulher é livre. Pode ir embora quando quiser, não me deve nada. O prazer de a ter comigo enquanto ela quiser basta-me. A verdade é que vivo sem laços e isso agrada-me.
Em duas fases etárias diferentes da minha vida, os meus melhores amigos nessa altura morreram. Quais seriam as probabilidades? Um morreu a voltar da escola, em frente ao pai, que nunca mais voltou a ser o mesmo: caiu para trás com a mochila às costas e partiu o pescoço (explicado de forma grosseira). O outro morreu no sofá de sua casa quando lhe rebentou uma veia no cérebro (mais uma vez, tecnicamente pode ter outro nome, mas foi mais ou menos o que aconteceu). durante alguns anos tive receio de ter um novo melhor amigo. Parecia trazer comigo uma maldição.
Sempre lidei de uma forma discreta com os meus sentimentos. Desde que deixei de ser criança que se contam pelos dedos de uma mão as pessoas que me viram chorar ou simplesmente triste, e talvez tivéssemos ainda que cortar um ou dois dedos dessa mão. Não me orgulho da proeza, porque ela é mais egoísmo que outra coisa. Se não houver laços não há perdas. Uns poderão alegar que se não me entregar às emoções não vivo de verdade. Talvez. Mas eu vivo bem a minha parte. Li algures que passamos cerca de 20 anos da nossa vida a dormir. Nesse campo posso afirmar que vou aumentar, se a Morte não me atraiçoar, o meu tempo de vida em 10 anos. Durmo metade do tempo. Vivo mais.
Chegamos por fim ao meu lema de vida: não perder tempo com tristezas e pessoas que nos levam a elas e acima de tudo, tentar não dormir muito, é um desperdício. Simples. O resto vem naturalmente.

9 de novembro de 2009

Roupa de Inverno

Resolvi fazer umas alterações ao velho modelo do UATAFAK.
Espero que gostem. Estou aberto a sugestões.

3 de novembro de 2009

1ª Resposta

Querida Morgana,

Recebi com agrado, mas sem surpresa, a tua carta. Sabia que depois de dois meses não poderias aguentar muito mais tempo. Não entendas estas linhas como descarada falta de modéstia. Sei que não aguentarias porque não está na tua índole, na tua boa índole, a incerteza e a falta de respostas. Sabia que de todas as dúvidas, de todas as perguntas, "porquê?" seria a que mais te tem assombrado. Não te posso responder directamente a essa pergunta. Pelo menos Hoje.
Não posso também, no entanto, deixar de referir algo que talvez te espante: não o fiz por ter deixado de te amar. Amo-te ainda e cada vez mais.
Os dias estavam a ficar estranhos para mim. Tens razão acerca da minha solidão, o teu ciúme é inteiramente justificado. Prefiro estar sozinho a estar contigo. E respondo já à pergunta que acabaste de fazer baixinho: não sei porquê.
Quando perguntas porque te deixei, estás a ser hipócrita. Não queres saber porque te deixei, mas sim porque deixei de te amar, porque era isso que receavas. E agora estás confusa, mais do que nunca, porque sabes que não deixei de te amar. Apenas preciso de estar só, não com outras pessoas, mas só. Sei que te perguntavas se eu aproveitaria este tempo para estar com outras pessoas. Duas coisas que te vou dizer e não quero voltar a repetir: eu vou aproveitar este tempo para estar só; e tu deves aproveitá-lo como bem entenderes, não quero saber.
Preciso de pensar e tu, apesar de não perceberes, também precisas. Mas aproveita para pensares se me amas realmente? Estranhas a pergunta? Pensa nisso. Aproveita para pensar o que é para ti o amor e se é o que sentes por mim. Vais ter tempo para pensar, não planeio voltar tão depressa.

Aguardo notícias ponderadas.

Ainda teu,

Goth

2 de novembro de 2009

1ª Carta.

Amor,

Escrevo-te porque a saudade dói e vejo, nestas linhas, uma forma de me anestesiar. Não sei porque partiste. Ainda hoje não sei porque partiste. Tenho pensado nisso sem descanso. Porquê? Lembro-me de te perguntar vezes sem conta porque andavas tão calado. Lembro-me de ver esmorecer, dia após dia, o brilho dos teus olhos. Lembro-me de te sentir, na cama, fazer amor comigo até deixar de ser amor. Passaste a satisfazer-me "maquinalmente". Hoje, olho para trás, e penso que foste como um peixe a quem tirei a água. Foste perdendo cor, brilho, desidrataste da vida do teu corpo, como da água, o peixe. Martirizo-me todos os dias por não ter percebido que estavas a sofrer. Mas como podia ter percebido? Amo-te e, como sabes, esse sentimento não nos deixa ver, nem mesmo o óbvio. Bom, talvez não saibas. Talvez não me tivesses amado. Nunca entendi o teu amor pela solidão. Nunca quis, talvez, entender porque rejubilavas sempre que tinhas oportunidade de ficar só. Acho que apenas só consegues ser tu, em pleno. Estou enganada? Diz-me se estiver. Sei que nunca me enganaste, e apenas me senti traída pela solidão que tanto amas. Tive ciúmes.
Custou-me perceber que, por vezes, preferias a solidão à minha companhia.
Mas ainda te amo. Lembro o dia em que me deixaste. Como se fosse hoje, ali estás tu, à porta, com as malas prontas a dizer-me que devo viver a minha vida sem ficar presa a ti. Que a nossa relação para ti continuará viva, que manterás o teu compromisso para comigo, mas que não poderias nunca exigir-me o mesmo, que não seria justo. Não entendi. Lembro-me de te pedir para continuarmos a falar, de te perguntar se podia entrar em contacto contigo quando quisesse. "Sim, mas só por carta" foi a resposta, enquanto anotavas a morada. Desde esse dia que olho todos os dias para aquele estúpido "post-it" amarelo.
Bom, aqui estou eu. Aguardo notícias tuas.
Sinceramente tua,
Morgana

25 de outubro de 2009

Curiosidades

Não há homem, macho, eu diria, que se preze, que goste de se prestar ao ridículo através de actos ou, mesmo, indumentárias envergadas. Não há macho "à séria" que aceite que o ridicularizem na sua masculinidade. Contudo, socialmente vão surgindo situações em que os machos tendem a fazer um exercío de ridicularização própria, e pior, perecem muito satisfeitos com isso. Passo a enumerar:

1- Jogos de futebol: um clássico da ridicularização masculina. Experimentem chamar cornudo, na rua, a um brutamontes com 1,90m de altura e 100Kg de peso. Se sairem da experiência ilesos é porque, ou correm muito depressa, ou o tipo é surdo. Contudo, durante um jogo de futebol, de preferência da Selecção Nacional de qualquer país, é vê-los com chapéus rídiculos com chifres na cabeça, guizos a tilintar, maquilhagem na cara, aos saltos e todos satisfeitos quando finalmente reparam que estão a ser filmados e estão a aparecer naquela figura nas televisões do país inteiro. Muito macho.

2- Carnaval: outra situação que já vai sendo um clássico em Portugal. Porque é que homens de barba rija, que absorvem cerveja como esponjas, usam palito no canto da boca e cospem para o chão à mesma velocidade de um tique nervoso, insistem, ano após ano, em vestirem-se de mulher durante esta festividade, e andarem trôpegos em cima de saltos altos. Pior ainda, não se limitam a vestirem-se como mulheres, mas como prostitutas rascas. Deveras masculino.

3- Confrarias: este não será ainda um clássico mas corre o risco de se tornar um, e rapidamente. Não são raras as vezes em que num jornal televisivo, quando a verdadeira notícia escasseia, aparece alguém a noticiar o encontro da confraria "x" ou "y". Existem confrarias para quase tudo: a da feijoada, a da tripa à moda do porto, a do Vinho do Porto, a da Cerveja, etc. Todas elas confrarias de uma área da gastronomia ligada ao verdadeiro macho. Não me lembro de alguma vez ver, ou ouvir falar, da confraria do Tofu, do Eclaire de Café, ou dos Cereais Fitness.
Contudo, sempre que vemos imagens dos confrades, é vê-los todos satisfeitos com enormes "togas" de veludo e "abat-jours" com berloques na cabeça, sorridentes enquanto dissertam, junto de uma jornalista, acerca das maravilhosas propriedades da cerveja. É de macho. Deviam acabar as entrevistas com um sonoro arroto.

9 de outubro de 2009


ADIVINHEM QUE VOLTOU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

5 de outubro de 2009

Agora posso dizer...

Agora, 8 anos depois, posso confessar. Agora que os teus olhos perderam o brilho de outrora. Agora, enquanto jazes nessa cama, paralisada. Agora, posso dizer-te que os anos que passámos juntos não passaram de uma extraordinária farsa. Posso confessar, hoje, que nunca te amei. Nada do que aconteceu entre nós foi genuíno. Fui apenas um actor na tua vida, simulei todos os sentimentos, todos os sorrisos, todas as lágrimas. A felicidade nos meus olhos não foi mais do que espelho da tua. Quando não estavas, quando ninguém estava, despia a máscara do teu amor e podia ser eu, respirando de alívio durante breves minutos, sem nunca me esquecer que rapidamente teria que retomar a minha actuação no palco da tua vida perfeita. A verdade é que me foste sempre indiferente, completamente. Esta é a verdade do que sinto por ti: indiferença. O movimento dos teus olhos, quase mortiços, leva-me a acreditar que me consegues ouvir e que estás a perceber o que te digo. É uma pena que não consigas falar porque gostava de ouvir o que tens para dizer agora. Mas acho que posso imaginar. Ias começar por dizer que é impossível, como se ninguém conseguisse resistir a amar-te perdidamente. O teu pedantismo não te permitiria jamais antecipar esta minha confissão. Foi precisamente essa tua presunção que me levou nesta missão de te provar que não és nada. E a verdade é que és tão fraca que quase fizeste com que nem valesse a pena tudo isto. Deves estar a perguntar-te porque fiz isto mas não existe nenhum motivo. É o que eu faço, simulo sentimentos, não sei viver de outra maneira. Aconteceu contigo porque estavas lá, naquele dia, para eu te conquistar. Podia ter sido qualquer outra mulher, mas foste tu. Ainda bem que foste tu, porque facilitaste a minha tarefa. Não mereces o amor de ninguém. Não te amo. Neste momento tenho que mudar de vida. Acabou o que tinha contigo mas não posso deixar-te assim. O mundo não vai compreender e eu tenho que manter a minha farsa. Não posso acabar a relação com uma mulher moribunda e permanecer perfeito. Para manter a perfeição do meu amor as coisas têm que acontecer de outra maneira. Estas lágrimas que vês não são por ti. São parte da farsa porque vou ter que chamar uma enfermeira. Esta almofada que seguro nas mãos não é para te pôr mais confortável. E lembra-te... eu nunca te amei.

20 de julho de 2009

Serei o único a perguntar?

Pergunto-me todos os dias porque é que 90% das pessoas que ouço se queixam que o governo, ou, em última instância, o País, não faz nada por elas. Essas pessoas, em 90% dos casos, são as mesmas que decidem fugir ao pagamento dos impostos. E dessas, muitas são as mesmas que ao Domingo, semana após semana, durante uma missa ou celebração de uma qualquer religião, decidem dar um chorudo donativo à igreja, seita, etc. Inacreditável. Deve haver uma grande descrença em todo o nosso sistema democrático, tem que haver. Só assim posso compreender que seja mais fácil dar dinheiro para uma causa tão extraordinária como acreditar num tipo que ninguém viu, ou em milagres sobrenaturais, ou que de facto a nossa alma estará perdida se não contribuirmos para uma causa tão nobre. Muito mais nobre do que contribuir para o desenvolvimento do país, o reforço dos cofres do Estado, do mesmo Estado a quem pedimos para aumentar subsídios, pensões e reformas, e reduzir impostos e ajudar os mais pobres. Deixem de chorar. Paguem impostos, sejam responsáveis, deixem de ser ridículos. Eu pago impostos, orgulho-me de os pagar. Gostava era de pagar menos, mas isso não depende nem de mim, nem do Estado. Corro o risco de a minha alma se perder nos Infernos para sempre, por escolher acrditar no Homem em vez de acreditar numa mão cheia de nada.

5 de julho de 2009

Comportamentos

Há comportamentos que me deixam, de certa forma, perplexo. Diariamente assisto, incrédulo, a pequenas pérolas da estranha forma de vida do ser humano.
No ínicio de Junho tive a felicidade de estar em Alvalade para assistir ao concerto dos AC/DC. Digo "felicidade" porque foi apenas e só o melhor concerto a que tive oportunidade de assistir em toda a minha vida. Esquecendo aquilo que me levou lá, isto é, o concerto, a ida a Alvalade permitiu-me constatar, ou melhor, comprovar, uma coisa extraordinária: a estupidez e a inutilidade de alguns dos nossos comportamentos. O que é que leva uma pessoa aparentemente normal, a tentar encontrar num estádio cheio com milhares de pessoas, uma outra pessoa, com quem está a falar ao telemóvel, a centenas de metros de distância? Assisti a isto durante quase todo o tempo que antecedeu o concerto. Exemplo: O tipo A avista das bancadas, sabe-se lá como, o tipo B, com quem já não está desde...ontem!!?? Logo pega no telemóvel, essa arma sempre pronta a disparar chamadas e mensagens, e liga ao tipo B:
- A: Tou!? B? É o A pá! Tás bom?
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- A: Eu também pá! Por isso é tou a ligar meu! Tou-te a ver! Eh! Eh! Bestial!
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- A: O quê? Tou na bancada! Mesmo atrás de ti! Olha tou-te a dizer adeus agora!

Este tipo de técnica para nos encontrarem num estádio é muito eficaz, especialmente quando constatamos que para alem do tipo A existem mais 20 tipos a dizer adeus, de telemóvel ao ouvido, a olhar para o relvado.
Quando o tipo A se apercebe disto logo arranja outra técnica mais eficaz:

- A: Sou aquele da t-shirt preta! Já me viste? Tou mesmo à tua frente pá!

Brilhante. Num concerto dos AC/DC qual será a percentagem de pessoas com t-shirts pretas? A coisa só melhora quando, por incrível que pareça, se torna mais ridícula.

- A: Olha estou a fazer ondinhas com os braços e a abanar-me de um lado para o outro! Já me viste?

Na verdade, só quando o tipo à minha frente se transformou numa dançarina do ventre é que foi, finalmente, avistado pelo amigo. Resultado:

- A: Já me viste? Boa! Porta-te bem. Bom concerto! Tchau!

Aquele espectáculo todo só para que o outro tipo o visse e depois "Tchau"? Porquê? Ele não acreditaria que ele lá estava sem o ver? E não podia esperar para amanhã? Qualquer coisa como: Olha, ontem vi-te no concerto! Gostaste?
A pessoa que estava comigo lembrou-me de uma coisa também interessante. Porque é que desejamos um "bom concerto", o tipo por acaso vai tocar?!
Curiosidades à parte, tenho que terminar dizendo que o concerto não foi apenas bom, foi brilhante. Pagava o dobro daquilo que paguei se me garantissem assistir exactamente ao mesmo espectáculo.

1 de maio de 2009

Se eu morrer...

Eu tive uma mãe que sabia rezar. Se eu morrer e a minha alma se perder, a culpa será unicamente minha. Nina Simone cantou umas frases muito semelhantes a estas num dos meus temas preferidos. Não sei se a minha mãe sabe rezar. Se souber, à luz do facto de me ter como filho, tenho a certeza de que já o fez várias vezes e, provavelmente, a mais do que um Deus. Julgo que ela viu sempre Deus como algo que não se sabe muito bem se existe ou não, mas devemos agir como se existisse, não vá o Diabo tecê-las e o fulano estar de facto sentado a comandar as nossas existências. Talvez por isso se irritasse muito quando eu, herege e ateu até à ponta dos cabelos, desdenhava de tudo o que é religioso e dizia, alto e para quem quisesse ouvir, que Deus existe tanto como o Pai Natal. Talvez vivam juntos e até participem em marchas pelos direitos dos homossexuais. Aquela túnica nunca me enganou. Naturalmente brinco, apenas isso.
Contudo, é um facto que não acredito na existência de um Deus, qualquer que seja. Não existe ninguém que mande mais na minha vida do que eu próprio, logo sou eu o meu Deus. Honestamente, parece-me que a criação de religiões não passa de uma fachada para dar sentido à vida daqueles que não são confiantes o suficiente para fazer depender de si próprios o sucesso ou dos que são demasiado fracos para atribuir a si próprios o fracasso. É mais fácil para todos dizer, após uma desgraça, que "aconteceu por vontade de Deus" e depois de algo bom "graças a Deus". É mais fácil pedir a Deus do que a nós próprios. Dá menos trabalho. Rezar é talvez uma das coisas mais absurdas e inconsequentes que existe. Onde está a lógica? A ideia que mais me assalta é a de estar um tipo, alemão, a rezar antes de partir para a guerra. A centenas de quilómetros de distância está um tipo, norte-americano, a fazer precisamente o mesmo. O tipo alemão está vivo, o outro não. Rezaram ao mesmo Deus. Entraríamos agora numa discussão sobre merecer ou não ser ouvido. Não passaria de tempo perdido. Morrem pessoas boas e más. Simplesmente morrem. Ninguém decide isso, a não ser um conjunto de circunstâncias e decisões que, conjugadas, nos conduzem até ao dia em que respiramos pela última vez. Se existir um Deus que decide tudo desafio-o a acabar com a minha vida agora mesmo ............................................... hmmm, ainda aqui estou. Quem manda na minha vida sou eu, quem faz o meu destino sou eu. Sou o único responsável pelos meus actos. Se eu estiver enganado em relação a tudo isto e morrer, a minha alma ficará para sempre perdida, é verdade, mas a culpa será unicamente minha.

14 de abril de 2009

Tragédia Portuguesa

Nós, seres humanos, temos uma propensão absurda para tragédia. Interessa-nos de sobremaneira tudo o que é desgraça. Nós, portugueses, não temos propensão para a tragédia, nós simplesmente vivemos para ela.
Não nos interessa um documentário na televisão acerca de uma qualquer mulher de grandes méritos. Podiam ressuscitar Joana d'Arc para ser entrevistada em directo e ninguém ia querer saber. No entanto, colocamos uma quase desconhecida num documentário que acompanha os últimos dias da sua vida inútil e repleta de momentos...insignificantes e "voilá"! Audiências! Comentários pelas mais diversas figuras públicas em inúmeras revistas da especialidade (partindo do princípio de que a ineptidão é uma especialidade). Porquê? Porque adoramos ver. Somos "voyeurs" profissionais, mas selectivos. O tema só nos interessa se for, de facto, incrivelmente invasivo. Um documentário televisivo em que podemos acompanhar alguém até à morte é perfeito para nós. Podemos brincar às opiniões, afirmando com ar entendido no café: "É um acto de coragem, eu fazia o mesmo!" ou "Acho que ela ama mesmo muito os filhos, é uma mãe exemplar!"
Com franqueza, isto é exactamente a mesma coisa que parar junto a um acidente e dizer, com o mesmo ar entendido: "Tem ali arranjo para 600€!"
Diz-se que a tragédia é grega mas eu digo que é portuguesa.
Eu, pessoalmente, também convivo bem com a tragédia, deliro com ela. Mesmo a que acontece na minha vida ou à minha volta faz-me rejubilar.
Em Portugal gostamos, de facto, de tragédia, mas na vida dos outros, e quando chega a nossa vez não sabemos o que fazer, choramos desalmadamente, somos fracos, sentimos pena de nós próprios e rezamos, como nunca, para que ninguém tenha a fome dos abutres, como nós outrora tivemos.
Aconselho vivamente os documentários em fim de vida porque resultam financeiramente. Se eu tiver a infelicidade (ou não) de saber quando vai acabar a minha existência talvez faça um. Fala-se em morte assistida quando se pensa em eutanásia, mas para mim a morte assistida é isto. Nunca foi a morte tão assistida.

6 de abril de 2009

Acordados?

O que são os sonhos? Pergunto-me várias vezes. O meu sono conturbado obriga-me quase a viver duas vidas de tanto que sonho (intriga-me o facto de termos que usar o verbo sonhar mesmo quando se tratam de pesadelos: posso dizer que hoje sonhei mas não posso dizer que hoje "pesadelei" que é o que me acontece com mais frequência). No meu caso, adormeço a querer abrir os olhos e acordo por vezes a querer fechá-los. Parece que nunca estou como devia. E a noite, essa, é mais agitada do que muitos dos meus dias. Adoro pesadelos. Adoro a sensação de acordar com a sensação de ter as mãos cheias de sangue que no segundo seguinte desapareceu; a sensação de cair de um prédio de 10 andares e acordar antes de embater no asfalto; a sensação de fugir da morte, noite após noite, escapar às suas garras eternas sem, na verdade, nunca estar em perigo. Ou será que estive?
O meu escritor nacional de eleição, Mário de Sá Carneiro, acreditava que o perigo, em sonhos, não deixava de ser real. Disse-o colocando as suas ideias no cérebro de um personagem fantástico que criou. Não me quero enganar, mas julgo que o seu nome era Professor Ventoinha. Ele acreditava que aquilo que vivíamos em sonhos, e o que vivíamos durante o dia, no quotidiano, eram vidas paralelas. Era esta a sua explicação para a sensação estranha, mas comum, de "déja vu" que julgo já nos ter assolado a todos, pelo menos uma vez na vida. Ele acreditava que tínhamos que viver uma vida durante o sono para que o tempo e o espaço não colidissem, mas acima de tudo que a nossa massa corporal não existisse em simultâneo em duas vidas, o que significaria a morte. Rebuscado? Não sei. Imaginem que de facto existem duas vidas que vivemos, que durante o sono saímos de dentro desta embalagem e vamos preencher outra, noutro mundo. Não tem que ser uma embalagem igual, não temos que ser nós outra vez. O escritor defendia que o corpo que teríamos na vida paralela não seria o mesmo, mas nós, na impossibilidade cerebral de nos imaginarmos diferentes, teríamos que nos lembrar dos sonhos sendo iguais a nós próprios. Imaginem só o mundo de possibilidades que esta ideia, quase absurda acaba por nos trazer à mente. A imaginação é a nossa arma mais poderosa, não tenho dúvidas disso. Há duas coisas que distinguem a competência simples da genialidade absoluta: a imaginação e a criatividade. Ah, é verdade, esqueci-me de contar, o Professor Ventoinha passou os seus dias a tentar descobrir uma forma de sonhar acordado, de unir as suas duas existências, e conseguiu. Morreu nesse preciso instante. Puxem pela vossa imaginação e descubram só que vidas viverão enquanto aqui dormem. Alguma vez morreram em sonhos? Eu não, nunca, e pergunto-me porquê? Talvez eu tenha duas existências, mas apenas uma vida. Agrada-me saber que, uma vez que detesto dormir, não estarei a perder o meu tempo, não desta forma. A ideia pode ser ridícula, do ponto de vista científico sê-lo-á certamente, mas é a melhor ideia que já ouvi ou li acerca dos sonhos e é aquela em que escolho acreditar. Mas isto leva-me a outra questão interessante. Enquanto aqui escrevo, neste preciso momento, naquela que eu acredito ser a minha vida, não estarei antes num sonho? Não será esta a vida paralela? Não terei outra existência real e isto é só, o que na outra vida, vou contar pela manhã aos colegas no trabalho: "Porra, pessoal, hoje tive um sonho estranho..."

31 de março de 2009

Incondicional

Pernoitei em ti confesso
na sombra de ti comigo
Sei hoje que só eu consigo
amar-te sem regresso

Posso vingar todos os dias
todos em que não te amaram
dias que te despeitaram
não conheciam como sorrias

Mas eu vi como ninguém
o teu rosto luminoso
acorrentou-me e foi perigoso
estar assim dentro de alguém

Achaste que eu zombava
que era impossível amar assim
e que pensando só em mim
criativamente inventava

Jurei-te a derradeira prova
o dia em conhecerias afinal
o meu amor incondicional
nem que tal me levasse à cova

Um dia, amarrei-te inconsciente
a uma cama, amordaçada
para que só depois de acordada
pudesses ver finalmente

A prova única que faltava
o momento da verdade
de crua felicidade
em que saberias que te amava

Acordaste em frente ao espelho que ali pus
reflectindo a tua cara derretida pelo ácido
o que outrora era electrizante, agora plácido
escondia o choro dos teus olhos crus

Não entendi, quanta injustiça
não entendeste a intenção, a prova dada
quanto ninguém te quer agora deformada
beijo-te eu a face rugosa e mortiça.

22 de março de 2009

Sonhei...

Esta noite sonhei contigo. Bebias descontraída um café numa esplanada e eu observava-te, de longe, sem que desses por mim. Discretamente penteavas o cabelo sempre que passava alguém. Alguém que, pelo menos, pudesse ser do teu interesse. Folheavas uma revista, fútil em todos os teus gestos, estavas a matar tempo, claramente. O vento trazia-me o teu cheiro e eu não resisti, fui ter contigo, no meu sonho eu fui ter contigo. Ficaste feliz por me ver, pelo menos pareceste feliz depois da surpresa inicial. Falámos durante alguns minutos e parecias radiante quando te inclinaste para me beijar. Acordei.
Olho rapidamente para o lado, na cama, e ainda lá estás. Respiro de alívio. Deixaste de respirar há pouco mais de duas horas e pareces ainda libertar um estranho calor. Os teus olhos vítreos, petrificados, quase simulam um brilho próprio, mas não serão mais do que o reflexo do brilho que pousa nos meus. Estou feliz. Estás a meu lado. Ter-te assim, inerte e ausente, dá-me tempo para te ver, para te ver realmente, em detalhe, examinar-te, beijar-te, amar-te. Esvaziei-te de tudo o que não prestava em ti, limpei-te, formatei o teu corpo. Deixei apenas a obra, a arte, e eliminei tudo o resto, risquei o que não interessava. Ficaste tu. Que culpa tenho se te perdeste no caminho. Que culpa tenho se apenas sem vida permaneces pura. Agora és minha. Possuo-te.

1 de março de 2009

Uatafak'in Mentor

Escreve-vos o mentor deste blog. Bem sei que não tenho escrito tanto quanto eu desejava, mas certamente mais do que vocês desejam ou estão dispostos a aguentar. A minha capacidade para passar para algumas linhas o que vertiginosamente me assola a mente já foi maior. Confesso. Tenho, no entanto, procurado levar à prática algumas das ideias que, até agora, não tinham passado de meros posts com discutível piada ou interesse. Daí que a minha disponibilidade não seja tanta.
Perguntava-me alguém num outro dia porque tinha eu que ser assim. Perguntei: Assim como? Resposta pronta: obsceno, perverso, profeta da desgraça, sádico, frio e delirante com a desgraça alheia. Assustei-me. Não pensei que existisse alguém que me conhecesse bem a este ponto. Uma coisa é alguém ler o que eu aqui escrevo e descrever Goth Mortens, o meu alter-ego, eu diria. Outra coisa, arrepiante, é alguém falar de mim e descrever-me com esta perfeição. Tudo aquilo que sou e procuro não parecer estava ali, em meia dúzia de objectivos baratos de jornal diário. Pensei. Rebusquei razões, motivos lógicos. Defendi-me. Armei os campos de forças. Tenho duas vidas e só uma é realmente minha, e até aquele dia eu achava ser o único que sabia qual das duas era a minha. Porque é que eu sou assim? Repeti, respondendo de imediato: E porque não? Antes assim que hipócrita. Eu gosto de mim assim. Recuso-me a ser feliz, apenas delirante. O fato impecável, a gravata e os botões de punho dão-me um ar respeitável, escondem cada defeito, tatuagem ou cicatriz. Perdi o ar skin quando deixei crescer o cabelo que agora penteio com gel o que me dá o ar clean que as pessoas gostam de ver e respeitam. Mas não sou eu. Tenho saudades de mim durante o dia, e à noite mato-as. Senti-me um cobarde, por vezes, mas a necessidade de trabalhar fez-me assim, e, na verdade, deu-me dinheiro para cumprir algumas das minhas auto-profecias. Agora já não me sinto assim, até me agrada a ideia de levar esta vida dupla, de estar em frente a pessoas que me respeitam sem saber o que sou na realidade. Apenas alguns sabem, poucos. Tenho o meu refúgio. Durante o dia uso uma máscara e depois? O que importa? Desde que não deixe de ser eu lá dentro. Não sou assim tão mau, ou serei? Não interessa. Continuo a gostar de ver emigrantes de leste semi-nuas, rainhas gótico-eróticas e sexo com anãs. Não mudo. Sou frio? Nem tanto: há uma morte que me deixará inconsolável: a minha.