1 de março de 2009

Uatafak'in Mentor

Escreve-vos o mentor deste blog. Bem sei que não tenho escrito tanto quanto eu desejava, mas certamente mais do que vocês desejam ou estão dispostos a aguentar. A minha capacidade para passar para algumas linhas o que vertiginosamente me assola a mente já foi maior. Confesso. Tenho, no entanto, procurado levar à prática algumas das ideias que, até agora, não tinham passado de meros posts com discutível piada ou interesse. Daí que a minha disponibilidade não seja tanta.
Perguntava-me alguém num outro dia porque tinha eu que ser assim. Perguntei: Assim como? Resposta pronta: obsceno, perverso, profeta da desgraça, sádico, frio e delirante com a desgraça alheia. Assustei-me. Não pensei que existisse alguém que me conhecesse bem a este ponto. Uma coisa é alguém ler o que eu aqui escrevo e descrever Goth Mortens, o meu alter-ego, eu diria. Outra coisa, arrepiante, é alguém falar de mim e descrever-me com esta perfeição. Tudo aquilo que sou e procuro não parecer estava ali, em meia dúzia de objectivos baratos de jornal diário. Pensei. Rebusquei razões, motivos lógicos. Defendi-me. Armei os campos de forças. Tenho duas vidas e só uma é realmente minha, e até aquele dia eu achava ser o único que sabia qual das duas era a minha. Porque é que eu sou assim? Repeti, respondendo de imediato: E porque não? Antes assim que hipócrita. Eu gosto de mim assim. Recuso-me a ser feliz, apenas delirante. O fato impecável, a gravata e os botões de punho dão-me um ar respeitável, escondem cada defeito, tatuagem ou cicatriz. Perdi o ar skin quando deixei crescer o cabelo que agora penteio com gel o que me dá o ar clean que as pessoas gostam de ver e respeitam. Mas não sou eu. Tenho saudades de mim durante o dia, e à noite mato-as. Senti-me um cobarde, por vezes, mas a necessidade de trabalhar fez-me assim, e, na verdade, deu-me dinheiro para cumprir algumas das minhas auto-profecias. Agora já não me sinto assim, até me agrada a ideia de levar esta vida dupla, de estar em frente a pessoas que me respeitam sem saber o que sou na realidade. Apenas alguns sabem, poucos. Tenho o meu refúgio. Durante o dia uso uma máscara e depois? O que importa? Desde que não deixe de ser eu lá dentro. Não sou assim tão mau, ou serei? Não interessa. Continuo a gostar de ver emigrantes de leste semi-nuas, rainhas gótico-eróticas e sexo com anãs. Não mudo. Sou frio? Nem tanto: há uma morte que me deixará inconsolável: a minha.

1 comentário:

alguém disse...

e eu agradeço por seres como es e quem es