6 de abril de 2009

Acordados?

O que são os sonhos? Pergunto-me várias vezes. O meu sono conturbado obriga-me quase a viver duas vidas de tanto que sonho (intriga-me o facto de termos que usar o verbo sonhar mesmo quando se tratam de pesadelos: posso dizer que hoje sonhei mas não posso dizer que hoje "pesadelei" que é o que me acontece com mais frequência). No meu caso, adormeço a querer abrir os olhos e acordo por vezes a querer fechá-los. Parece que nunca estou como devia. E a noite, essa, é mais agitada do que muitos dos meus dias. Adoro pesadelos. Adoro a sensação de acordar com a sensação de ter as mãos cheias de sangue que no segundo seguinte desapareceu; a sensação de cair de um prédio de 10 andares e acordar antes de embater no asfalto; a sensação de fugir da morte, noite após noite, escapar às suas garras eternas sem, na verdade, nunca estar em perigo. Ou será que estive?
O meu escritor nacional de eleição, Mário de Sá Carneiro, acreditava que o perigo, em sonhos, não deixava de ser real. Disse-o colocando as suas ideias no cérebro de um personagem fantástico que criou. Não me quero enganar, mas julgo que o seu nome era Professor Ventoinha. Ele acreditava que aquilo que vivíamos em sonhos, e o que vivíamos durante o dia, no quotidiano, eram vidas paralelas. Era esta a sua explicação para a sensação estranha, mas comum, de "déja vu" que julgo já nos ter assolado a todos, pelo menos uma vez na vida. Ele acreditava que tínhamos que viver uma vida durante o sono para que o tempo e o espaço não colidissem, mas acima de tudo que a nossa massa corporal não existisse em simultâneo em duas vidas, o que significaria a morte. Rebuscado? Não sei. Imaginem que de facto existem duas vidas que vivemos, que durante o sono saímos de dentro desta embalagem e vamos preencher outra, noutro mundo. Não tem que ser uma embalagem igual, não temos que ser nós outra vez. O escritor defendia que o corpo que teríamos na vida paralela não seria o mesmo, mas nós, na impossibilidade cerebral de nos imaginarmos diferentes, teríamos que nos lembrar dos sonhos sendo iguais a nós próprios. Imaginem só o mundo de possibilidades que esta ideia, quase absurda acaba por nos trazer à mente. A imaginação é a nossa arma mais poderosa, não tenho dúvidas disso. Há duas coisas que distinguem a competência simples da genialidade absoluta: a imaginação e a criatividade. Ah, é verdade, esqueci-me de contar, o Professor Ventoinha passou os seus dias a tentar descobrir uma forma de sonhar acordado, de unir as suas duas existências, e conseguiu. Morreu nesse preciso instante. Puxem pela vossa imaginação e descubram só que vidas viverão enquanto aqui dormem. Alguma vez morreram em sonhos? Eu não, nunca, e pergunto-me porquê? Talvez eu tenha duas existências, mas apenas uma vida. Agrada-me saber que, uma vez que detesto dormir, não estarei a perder o meu tempo, não desta forma. A ideia pode ser ridícula, do ponto de vista científico sê-lo-á certamente, mas é a melhor ideia que já ouvi ou li acerca dos sonhos e é aquela em que escolho acreditar. Mas isto leva-me a outra questão interessante. Enquanto aqui escrevo, neste preciso momento, naquela que eu acredito ser a minha vida, não estarei antes num sonho? Não será esta a vida paralela? Não terei outra existência real e isto é só, o que na outra vida, vou contar pela manhã aos colegas no trabalho: "Porra, pessoal, hoje tive um sonho estranho..."

1 comentário:

Rain disse...

Sonho imensas vezes, acordada ou a dormir. Nunca tomei a vida do outro lado como sendo "a real", mas sem dúvida que já pensei umas tantas vezes em existências paralelas. Não só porque o meu outro ego é uma espécie de Indiana Jones com asas e dá-me imensa pena ter que acordar. E não, nunca morri. E nunca matei ninguém, já agora. Mas passo a vida a fugir de muita coisa ;P