19 de fevereiro de 2010

Compromissos

Considero-me um cavalheiro.
Para quem está a pensar no que poderei querer dizer com isto, esclareço: ser cavalheiro é mais do que abrir a porta do carro para uma senhora entrar, ou segurar a porta do restaurante enquanto alguém entra, ou dar prioridade a uma senhora para se sentar no autocarro. Para mim, ser-se um cavalheiro é mais do que ser porteiro ou ficar de pé quando nos queremos sentar. Especialmente, porque para se ser um cavalheiro, o nosso comportamento deve alargar-se a todos os géneros e não apenas às senhoras. Isto leva-me até ao conceito que me parece ser o que melhor distingue um verdadeiro cavalheiro dos demais aspirantes: compromisso. O conceito de compromisso é para mim o mais importante em qualquer relacionamento seja ele pessoal, profissional ou amoroso.
O nosso país tem um problema em assumir um compromisso com a pontualidade. Há muito quem faça alarde de não fazer esperar um cliente, mas em contrapartida deixa um amigo à espera trinta minutos, ou atrasa-se para um jantar com a esposa. Não se faz esperar um cliente, nem um amigo e muito menos uma mulher.
Mais, gostava que me explicassem as marcações para as "dez, dez e meia", que acabam sempre por resultar numa chegada às dez e quarenta e cinco, e o atrasado ainda atira "só me atrasei quinze minutos". Na verdade, quem chegou às dez esteve 45m à espera, mas isto digo eu que sou maluco. Em todas as minhas relações, se sou vítima de um atraso vou-me embora, não espero. Fui desrespeitado. A maior parte das pessoas que se atrasa comigo, nunca perdeu um avião, ou um autocarro, ou um comboio, o que significa que não me respeitam o suficiente para me presentear com a pontualidade.
A maior parte de nós foge da palavra compromisso. Num grupo de amigos, sempre que se faz uma marcação para um programa qualquer há sempre quem diga "eu depois confirmo-te" que é o mesmo que dizer "não me quero comprometer já porque depois pode aparecer um programa melhor, mas por outro lado não quero já descartar este porque posso ficar sem programa".
Eu nunca tive problemas em responder, perante um convite, "não vou porque não me apetece". A honestidade é uma das melhores provas de cavalheirismo que podemos dar. Nunca ninguém me penalizou por dizer a verdade, nem perdi amigos. Eles assim sabem que quando estou com eles é porque quero verdadeiramente estar lá. Não faço nada contrariado ou por não ter nada melhor para fazer.
Por último, falo do compromisso da lealdade. Para mim, talvez o mais importante. Não se trai um amigo, não se trai um cliente e acima de tudo, não se trai uma mulher. Não sou santo, nem almejo tal sorte. Naturalmente que posso achar outra mulher interessante. Mas tenho um compromisso com a minha mulher e enquanto o tiver só há espaço para ela. A não ser que se abra espaço para uma terceira pessoa ou mais duas, quem sabe, na relação e que seja de comum acordo. Estou sempre aberto a novidades.
Cada vez menos se respeitam compromissos, e julgo que isso terá a ver um pouco também com a crescente facilidade de comunicação. Antigamente agendava-se algo, e se uma das partes faltasse isso resultava sempre numa longa espera. Não havia como avisar, e quem esperava tinha sempre receio de ir embora e a outra parte aparecer imediatamente a seguir. Hoje, é fácil avisar. Liga-se a dizer "estou quase a chegar", ou " estou atrasado" ou "surgiu um imprevisto, já não posso aparecer." Mas não devemos deixar que isso iniba o nosso bom senso e a arte de não falhar.
Devemos assumir e respeitar compromissos. Não é muito complicado.
Não confio em alguém que esteja constantemente a "furar" compromissos, quaisquer que sejam.

3 comentários:

Rita Mendes disse...

tiro-te o chapéu! pois cavalheirismo é algo que caiu em extinção! E admiro o respeito que tens pelas pessoas que são importantes para a tua vida.
Nem sempre chego a horas e infelizmente já fiz esperar pessoas importantes para mim! E no entanto uma das coisas que mais odeio é esperar… revi muitas situações em que acontece marcar entre “dez, dez e meia” e como fico fula por ter de esperar os ditos 45minutos… mas acho que o mais ridículo é o modo como isto já faz parte dos nossos dias, por exemplo, sábado vou a um jantar em que apenas 4pessoas sabem a hora exacta da reserva, para os outros marcamos meia hora mais cedo… é ridículo e estapafúrdio? Sim, é! Mas foi o meio de só ficarmos meia hora à espera e não uma hora, com da última vez… poderíamos simplesmente pedir consciência a cada pessoa… mas duvido que funcionasse!

Rain disse...

Concordo plenamente. É raro atrasar-me e se acontecer é porque qualquer coisa fugiu mesmo ao meu controlo. Não é questão de detestar estar "à seca" à espera de alguém, mas é mesmo falta de respeito fazer com que os outros tenham que esperar por nós.

Tal como está aqui no comentário acima, é ridículo avisar algumas pessoas meia hora ou 1h mais cedo para ver se chegam a tempo. Nem dá vontade que venham... Eu tinha vergonha de ser assim.

Goth Mortens disse...

Boo e Rain, concordo: é absurdo termos que indicar a alguém uma hora antecipada para que chegue a horas. É por isso que não o faço. Tenho um limite de tolerância que não é o mesmo todos os dias. Já aconteceu ligarem-me: "Então meu, o que te aconteceu? Não vens?" E eu respondo "Já aí estive e já não volto."