2 de fevereiro de 2010

Avatar

Não podia deixar de lhe fazer referência. Fui ver o Avatar há algumas semanas. Confesso que durante o tempo que ouvi falar do filme, não só através das publicações da especialidade que habitualmente acompanho e consulto, mas também através das pessoas que o foram ver antes de mim, fiquei com a ideia de que talvez houvesse algum exagero nos elogios que eram feitos a mais esta obra de James Cameron. O realizador está longe de se encontrar entre as minhas preferências. Na verdade não pensei que o "obreiro" de Titanic fosse capaz de algo que fosse do meu interesse. Desconfiei de "Avatar". Nunca duvidei que a explosão de cores fosse real e que fosse efectivamente como contavam. Confesso aqui que a minha primeira ideia antes de ver o filme foi: "mais uns milhões gastos num capricho de Cameron sem o mínimo conteúdo ou argumento, apenas para deleitar a vista esquecendo o intelecto" - ainda não esqueci o fraco, fraquíssimo, "Titanic".
Vi o filme. Mudei de ideias.
Sou da opinião de que só os burros nunca mudam de ideias.
Devo manifestar que "Avatar" se apresentou, para mim, como uma agradável surpresa. Não que o argumento seja original (toda a gente se lembra de "Pocahontas"): um povo invasor, um povo nativo, uma guerra invasora e um amor que nos faz questionar os motivos de uns e abraçar os motivos de outros.
Mas a inteligência de "Avatar" não está no argumento, ainda que eu ache que, não sendo original, ele foi bem explorado. A inteligência deste filme vai, também, muito além da extraordinária tecnologia. Contudo, apesar de não ser o melhor filme que vi, foi sem dúvida o mais belo. É impossível não nos apaixonarmos pelo planeta Pandora. Mas, dizia eu, a inteligência de "Avatar" está nos pormenores: a cultura simples e pagã dos Na'vi, entretanto já criticada pela habitual estupidez natural da Igreja Católica; a ligação de um povo à natureza (fauna e flora) de uma forma fantástica e das mais belas alguma vez retratadas; a retribuição, por parte da Natureza, da adoração dos Nav'i. Tudo isto são aspectos que, sobretudo Hoje, são revestidos de uma assinalável pertinência. Se tiverem a disponibilidade e a paciência que a tarefa exige, atentem na construção e complexidade linguística dos Nav'i, nas conversas desenvolvidas na língua nativa. Brilhante e bela.
A estrutura moral das personagens está bem conseguida e bem assente nas suas prioridades, isto é, são personagens com falhas e com estruturas comportamentais possíveis, por serem imperfeitas. Jake Sully, por exemplo, decide abandonar o seu mundo e o seu corpo para se tornar a consciência definitiva de um avatar, mas não o faz apenas por amor, fá-lo também porque tem naquele mundo algo que não tem no seu: a capacidade de andar.
De todas as personagens, porém, a minha preferência recai sobre a mais pura e perfeita: Neytiri. A graciosidade, a destreza, a força que disfarça as fragilidades, a beleza e a voz sensual de Zoe Saldana fazem com que esta personagem tenha entrado directamente para o primeiro lugar das personagens mais sensuais e cativantes de todos os tempos no cinema, na minha opinião claro.
Bom filme.

6 comentários:

Rita Mendes disse...

Confesso que sobre este filme que não vi, estou ainda pela tua primeira opinião...lá está, para mim anda meio mundo a exagerar.. mas vou tratar de ver o filme e depois mandar algo para o ar...
(embora confesse que neste momento ande a tentar quebrar falhas (graves) cinematográficas, como seja Donie "Darko", "stigmata", proximo: "laranja mecânica", "voando sobre um ninho de cucos"... e depois talvez ainda chegue a tempo ao cinema para ver o Avatar.)

Rain disse...

Eu já vi e confesso que achei piada ao filme. Também não sabia bem o que esperar com tanto "hype", mas esqueci-me completamente do tempo enquanto estive sentada com aqueles óculos fashion.

Goth Mortens disse...

Boo, são filmes, todos eles, que deves ver. O Avatar aconselho-te em 3D. Já que estás a suprimir lacunas aconselho, se ainda não viste: American Psycho (o meu filme preferido de sempre - a versão com o Christian Bale), Shining, Amor Perro, 4 Quartos e, já agora, tudo o que ainda não viste do Tim Burton.

Rain, é sempre bom o teu regresso aos comentários. Em relação aos óculos, confesso que nunca resisto a tirar os meus a meio dos filmes 3 D e olhar para o resto da sala. Muito fashion, com efeito.

Rita Mendes disse...

sim, também acho que o Avatar terá mais encanto em 3D, daí dizer que tenciono ir ao cinema ver...
dos filmes que mencionaste, o meu "corrector de lacunas cinematográficas" também ja me tinha falado. dos filmes do Tim falta-me (de forma vergonhosa) o "Eduardo mãos de tesoura" e estou em pulgas para ver o novo dele - "Alice no país das maravilhas".
falando de Tim B. já leste "a morte melancólica do rapaz ostra"?

Goth Mortens disse...

Ainda não li. É uma falha gravíssima. Ora aí está uma lacuna para eu preencher.

Rita Mendes disse...

acredita que vale a pena, até porque é o proprio TB que faz os desenhos... é o meu livro do coração! também aconselho "a loja dos suicidios" de Jean Teulé... é puro humor negro e de uma simplicidade e brilhantismo que até arrepia... também é surpreendente pelo final... na contra-capa diz"se a sua vida foi um fracasso, connosco a sua morte será um sucesso!"...