3 de maio de 2010

X - Madalena

- Não compreendo…ahh…desculpa, mas nem sei como te chamas…
- Madalena.
- Bom, Madalena, não entendo…o que me queres contar sobre a tua mãe?
- A minha mãe é bem mais velha do que parece.
- Sim, isso já percebi, quer dizer…percebi que parece demasiado nova para ser tua mãe!
- Pois, mas quando digo mais velha, quero dizer, bem mais velha…
- Como assim?!
- A minha mãe tem cerca de 200 anos!


- Desculpa, mas…mas…só podes estar a delirar, se achas que eu vou acreditar num absurdo desses…
- Não é absurdo nenhum! Não sei porque ainda perco tempo a falar contigo…
- Como queres que eu acredite nisso?
- Se não confias em mim não faz sentido estarmos a ter esta conversa…
- Bom, vamos supor que acredito…posso-te pedir algumas explicações?
- Depois do que aconteceu ao avô do Carlos, acho que te devo algumas, sim…
- Bom, então vamos começar por aí, já que tocaste no assunto…
- Foi a minha mãe que o deixou naquele estado…
- Naquele estado!?!?! O que é que raio ela fez? Ele estava azul!!
- A minha mãe só faz aquilo que querem que ela faça!
- Estás a dizer-me que o velhote queria ficar azul e morrer?
- Não! Estou a dizer que o velhote quis deitar-se com ela…
- Uhhh! Deitar-se?! Só de pensar nisso…que nojo…
- Gabriel! Peço-te que leves esta conversa muito a sério...as nossas vidas dependem disso!
- Dependem? Porquê?
- Já lá vamos. Não querias saber do velhote?
- Queria…vá continua.
- O velhote quis deitar-se com ela e no momento em que acabou, sentiu-se tão bem que imaginou que se morresse naquele momento, morreria feliz. A minha mãe só tornou realidade o que ele imaginou.
- Mas ela não o deixou morto, ele ainda chamou pelo Carlos!
- Eu cheguei antes dela acabar…
- Tu?!
- Sim, não percebes?
- O que é foste lá fazer?
- Ainda não percebeste que eu tenho andado estes anos todos a esforçar-me por controlar a minha mãe?! Quem achas que ia visitar perto do cemitério?
- Mas não havia lá nada!!
- Não soubeste procurar. A minha mãe tem estado enfiada num poço que ali está, há mais de 20 anos.
- Porquê?
- Foi nessa data que matou o meu pai. Toda a gente falou disso aqui na terra. Não sei como não sabes dessa história…
- Não, nunca tinha ouvido. Então, mas não percebo porque queriam que me afastasse de ti, se foi ela…
- Toda a gente diz que eu estou amaldiçoada, que enlouqueci os dois e que por isso ela o matou. Todos acham que se matou de seguida.
- Então e porque a escondeste no poço?
- Era uma forma de a proteger também …e de proteger o resto da aldeia…
- Pelos vistos não correu muito bem ultimamente…
- E a culpa é inteiramente tua!
- Minha?!?!
- Sim, se não me tivesses seguido ela não tinha saído de lá, tive que esperar que vocês não estivessem a ver para entrar. Entrei tarde de mais…
- Mas que raio…o que é que a tua mãe é afinal?! É algum bicho?
- A minha mãe é um demónio, se lhe quiseres chamar assim…
- Um demónio?! Bem, já nada me espanta.
- Não sei como lhe hei-de chamar de modo a que percebas, por isso chamo-lhe demónio. Ela tem a capacidade de se tornar tudo o que desejas…o problema é que não controlamos os nossos desejos…e tu sabes bem que não…
- Não percebo, qualquer pessoa controla os seus desejos…
- Mentira. Tu podes forçar-te a ti próprio a desejar alguma coisa…mas não vem do teu íntimo, e um demónio como a minha mãe cheira essa diferença como um cão de caça…
- Então mas não percebo, quando eu vim a tua casa a primeira vez…
- Desejaste ver-me nua, e foi isso que viste. Na verdade era ela quem estava à tua frente…
- Que vergonha…
- Não te preocupes, eu compreendo. A maior parte das pessoas nem imagina quais são os seus desejos mais íntimos até os ver materializados à sua fren…
- Eh pá, o que foi isto?
- Shhhhhh!



- É a minha mãe!!

1 comentário:

W. disse...

Sangue, prevejo sangue!